sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A Bruxaria Tradicional e a Wicca Moderna, por Robin Artisson.

Reproduzimos o artigo de Robin Artisson, que explica as diferenças básicas entre a Bruxaria Tradicional e a Wicca moderna, por considerarmos bastante didático e claro para distinção entre a wikkā/bruxaria tradicional e a moderna (gardneriana e afins):

HISTÓRIA
A Bruxaria Neopagã, ou "Wicca", teve o seu início nos anos 40 e 50 com os escritos de Gerald B. Gardner. Apesar de afirmar que era membro de um coven "tradicional" que ele encontrou no sul da Inglaterra, faltam evidências da veracidade desta história. E se o "coven" que ele menciona era autêntico, então pela sua própria descrição eles parecem ter sido um grupo eclético de maçons, hermetistas, rosacruzes e ocultistas, não verdadeiras bruxas "tradicionais". Os seus próprios registros das atividades e crenças/práticas do grupo testemunham isso. Não há dúvidas de que esta organização tinha tendências e ambições de "reviver" a Antiga Arte, mas isto os coloca na categoria de "pagãos reconstrucionistas" e não de "Bruxas Tradicionais". 
Wicca, no seu credo moderno e na sua estrutura ritual, lembra muito fortemente uma versão descristianizada da Ordem da Aurora Dourada (Golden Dawn), com muitas adições thelêmicas e teosóficas, assim como materiais obviamente emprestados de Aleister Crowley e da OTO. Todas essas fontes, e as personalidades envolvidas, floresceram na revivificação do ocultismo da primeira metade do século vinte e é do meio do século vinte que a Wicca Garderiana data. A Wicca Garderiana reivindica "descender espiritualmente" das antigas religiões pagãs, mas o fato é o de que a sua estrutura ritual e a sua teologia não sustentam quase nenhuma semelhança com nenhuma cultura nativa pagã autêntica da Europa. 
A Bruxaria Tradicional, por outro lado, refere-se às crenças e práticas de famílias e organizações secretas da Arte que antecedem o século vinte. Normalmente, apesar de a doutrina e as práticas da Bruxaria Tradicional terem raízes em tempos muito antigos, o tempo mais longínquo que a maior parte das organizações tradicionais podem se datar com alguma exatidão é o século 17. Entretanto, o folclore e a história do século 11 em diante testemunham práticas similares àquelas transmitidas hoje pelas bruxas tradicionais. 

FORMALIDADE 
A Wicca Garderiana tem uma estrutura muito formal, baseada no modelo de "três graus" de iniciação, um empréstimo óbvio da Maçonaria. A religião wiccana é muito hierárquica, com deslumbrantes títulos de "Alto Sacerdote, Alta Sacerdotisa" e semelhantes e é normalmente orientado para o lado Feminino. Há apenas duas
"tradições" reais de Wicca... A Gardneriana (a original) e a Alexandrina... Mas desde a explosão do interesse pelo oculto nos dois lados do Atlântico, muitas tradições "ecléticas" surgiram, representando quase todo tipo de distorção cultural e metafísica que você pode imaginar (Wicca Celta, Faery Wicca, Wicca Saxônia, Wicca Diânica etc. etc.)
Na Bruxaria Tradicional, normalmente, não há uma "estrutura" de grupo claramente definida. Se há, é apenas limitada a uma região, e normalmente não é rígida como a Wicca. Título não são tão utilizados, e quando o são, eles ainda são informais, se comparados à ênfase da Wicca em títulos. Os grupos tradicionais da Arte podem ter uma liderança, mas esta pode tanto ser masculina quanto feminina, e o seu poder como "cabeça" de um grupo não é o poder exercido pela "Alta Sacerdotisa" e pelo "Alto Sacerdote" da Wicca. Conhecimento, experiência e a disposição de servir são fatores decisivos para a maior parte dos líderes de grupos tradicionais e não a egolatria, a coleção de títulos e a fome de poder. 
Os rituais e ritos da Wicca Garderiana também tendem a ser muito formais e escritos previamente à mão... enquanto que na Bruxaria Tradicional, a maioria dos rituais são espontâneos e muito menos estruturados do que na Wicca. Há formas rituais, é claro, algumas formas até muito antigas, mas elas são muito parciais, muito abertas e simples. O "nível interno" do ritual tem mais ênfase do que o externo no trabalho tradicional. A idéia é a de que não é como você faz algo, mas sim, porque você o faz. 
Na Bruxaria Tradicional, o progresso de uma pessoa é MUITO mais lento do que na Wicca, na qual uma pessoa pode ser "um Alto Sacerdote de terceiro grau" no espaço que varia de alguns poucos meses a um ano ou dois, ou mesmo mais rápido se ele tem em mãos um livro publicado pela Lewellyn, que produz "bruxas instantâneas". Viver a vida, aprendizado e experiência são cruciais para um "progresso" genuíno e "iniciações" de verdade são geralmente experiências que acontecem a um nível pessoal, dadas por poderes do outro mundo, através do tempo. A Bruxaria Tradicional aceita isso. 
TEOLOGIA NEW AGE 
A Wicca Garderiana tem muitos conceitos "new age" no seu cânon que simplesmente não encontram lugar no contexto histórico ou cultural da Antiga Bruxaria Européia. Alguns destes conceitos estão listado abaixo: 
KARMA:
este conceito hindu/buddhista foi levado para a Wicca por Gardner, provavelmente de uma fonte teosófica. Na Bruxaria Tradicional, "Destino" é um conceito importante... mas "karma" nem é citado. Não há a crença na Arte Tradicional de "débitos kármicos" ou de "karma carrega pela pessoa" devido às suas ações. A verdadeira crença da Arte Tradicional a respeito desses assuntos eram e são muito diferentes dos conceitos orientais de "karma." 
A LEI TRÍPLICE:
Esta estranha noção não tem base na história ou na realidade. Enquanto que muitos povos em muitas épocas e lugares têm ameaçado poeticamente as pessoas com a idéia de que as suas ações retornarão a elas "multiplicadas muitas vezes", a Wicca aceita isso como uma lei física e imutável. A verdade é que enquanto muitos wiccans abriram mão da crença no "fogo do inferno e danação eterna" como uma barreira para as suas ações negativas, eles a substituíram para "lei tríplice", que ameaça com uma retribuição tripla pela negatividade dos outros. Não existe nenhum traço de uma crença como essa na Bruxaria Tradicional ou em algum sistema de crenças nativo-europeu sobrevivente. 
DUOTEÍSMO
A crença wiccan determina que há apenas dois seres divinos, um "deus" e uma "deusa". Os diferentes deuses e deusas cultuados pelos nossos ancestrais europeus, ou por qualquer pessoa na Terra, são considerados como "aspectos" ou "manifestações" destes dois seres. Assim, "Todos os Deuses são um Deus e todas as Deusas são uma Deusa." Este reducionismo divino é chamado de "duoteísmo" e não tem precedentes nem na antiga Europa, nem nas crenças das bruxas tradicionais. É, de fato, uma crença moderna. Além do mais, muitos wiccanos acreditam que este "Deus" e esta "Deusa" são eles mesmo aspectos de uma unidade divina incogniscível, ou um incrível ser chamado às vezes de "O Uno"... nos levando direto a uma versão new-age do Monoteísmo, muito bem adaptado a facilitar as consciências dos usualmente ex-cristãos convertidos à Wicca.
Nossos ancestrais europeus eram politeístas. Eles acreditavam em muitos Deuses ou em Deuses locais. Isto é verdade para muitas Bruxas Tradicionais. Há algumas crenças agora (assim como nos tempos antigos) de algumas divindades sendo "maiores" do que outras... quase ao ponto filosófico de transcendência e poder universal. Isto às vezes aparece também na Bruxaria Tradicional, mas na forma de mistérios e não na devoção diárias ou no monoteísmo new-age. 
LIVRO DAS SOMBRAS:
Nos Antigos Dias, entre os praticantes tradicionais da Arte Secreta, ter evidências escritas do que você fazia era uma sentença de morte se você fosse pego. Além disso, a maior parte das pessoas antigamente eram completamente iletradas. A Antiga Arte era principalmente passada adiante oralmente e, se fosse escrita, isso teria que ser feito de forma econômica.
ÉTICA
A religião Wicca tem uma "Rede" ou "regra de ouro" que forma a base da ética wiccana... ela dita o seguinte: "faça o que quiser, desde que não prejudique a nada nem ninguém." Esta é uma boa sugestão e é basicamente uma reformulação da "regra de ouro" judaico-cristã. Entretanto, a Arte Tradicional não tem tal regra. A ética na Antiga Arte é completamente ambígua e regida pelas circunstâncias. 
Os wiccanos tratam esta "Rede" como se fosse uma lei cósmica imutável, quando na realidade, "Rede" é uma palavra anglo-saxã para "conselho", e não para "lei". Mas para a religião wiccana é um dogma irremovível. 
Este assunto todo acaba sendo uma outra negação wiccan das trevas inerentes à natureza, ... Danos e feridas, tudo isso existe na natureza... e nós, humanos, somos partes dela. Assim, danos e feridas fazem parte de nós. Nós matamos plantas e animais para comê-los. Matamos as bactérias da água para bebê-la. Vida alimenta a vida. A Bruxaria Tradicional é bastante orientada para a família e para a Fé. Se alguém ameaçar a família ou a Fé, então parar aquele que está causando a ameaça é a prioridade. Se isso significar prejudicar alguém, é o que as bruxas tradicionais farão e não nenhuma imposição ética contra isso. A Arte, e o poder que ela invoca, não é "boa" ou "má"... é ambas as coisas. Há um tempo e um espaço para cada uma das qualidades. Isso é difícil para new-agers entenderem, mas é simplesmente como as coisas são. Negar qualquer lado seu, ou da natureza, é afastar-se do mistério central: o da totalidade. 
FESTIVAIS
O calendário wiccano de Gardner é divido em oito sabás (festivais)... os quatro festivais celtas, os dois solstícios e os dois equinócios.
Entretanto, esta é uma invenção moderna. Os celtas, por exemplo, não observavam os solstícios e os equinócios nos tempos pré-cristãos. Há evidências que sugerem que os bretões nativos (que precederam em muito os celtas na vinda para as Ilhas Britânicas) o faziam, mas os antigos celtas não tinham um calendário óctuplo. Eles não tinham nem ao menos quatro estações... apenas um verão e um inverno. Gerald Gardner, novamente, influenciado por outros ocultistas, em especial, neste caso, pelos "druidas revivalistas" românticos da Inglaterra, que trouxe este conceito inventado de "oito sabás" para a Wicca.
Na Bruxaria Tradicional, os Dias Sagrados celebrados são diferentes de região para região, de Tradição para Tradição e de pessoa para pessoa. Uma tradição agrícola irá seguir os fluxos de plantação e colheita e celebrar festivais de colheita, enquanto que outra tradição poderá celebrar os fluxos solares. Atente para isso, os dias sagrados são sempre regulados pelos fluxos da natureza e são diferentes dependendo de para onde você for. As quatro datas dos antigos celtas (Samhaim, Beltane etc.) podem ser ainda seguidos em alguns lugares, mas, se eles forem, os solstícios e os equinócios tendem a não ser.
É neste tópico que o assunto "seriedade e autenticidade" torna-se mais tenso. É muito comum em círculos wiccanos se ouvir invocações de "Pan, Thor, Lillith e Freya" ou de qualquer outro conjunto de deuses e deusas que o coven se sinta à vontade para invocar. Com nenhum respeito à cultura ou herança familiar e com nenhuma autenticidade ou contexto histórico, a crença wiccana de que os deuses e as deusas são todos "um só" faz com que os wiccan achem que eles tem o direito de alegremente chamar qualquer combinação de deuses que eles queiram. Esta é um postura imperdoavelmente new-age e mostra uma total falta de seriedade e contexto cultural.
Algumas tradições da Wicca tentam unir-se a apenas uma cultura de deuses e um conceito religioso. Este é passo admirável rumo à realidade. Mas a maioria das tradições não o faz.
Na Bruxaria Tradicional, especialmente nas Ilhas Britânicas, a cultura dos povos da terra, e dos povos de algumas gerações atrás, determinam o contexto cultural da tradição. Isso porque a Bruxaria Tradicional é parte da terra, do seu povo e da sua história. Sendo uma invenção moderna e uma mescla de idéias ocultas orientais e ocidentais, falta à Wicca tal base. Muitas tradições da Bruxaria Tradicional das Ilhas Britânicas têm um sentimento Anglo-Saxão ou Germânico/Nórdico e, por trás disso, uma memória familiar da cultura celta. Tradições escocesas e irlandesas tem a ser (obviamente) estritamente célticas. 
BONDADE E LUZ
A Wicca, como uma realidade dos dias modernos, com o seu estilo moderno e seguidores quase sempre urbanos, perdeu muito da sua conexão com a Natureza e com a Terra. Wicca aparece como uma religião de "sinta-se bem" e "bondade e luz", normalmente venerando a sua Deusa da Natureza como uma figura maternal e muito amável e imaginando o mundo invisível como um lugar de poder positivo e repleto de espíritos prontamente dispostos a nos auxiliar. Esta visão completamente desbalanceada, com a sua fixação em como são "maravilhosos" e "lindos" a Natureza e os outros mundos, NÃO é absolutamente como os nossos ancestrais viam os deuses e o universos e NÃO é como as bruxas tradicionais vêem as coisas.
A Natureza é tanto benévola quanto cruel, dando e tirando. Há uma escuridão inerente à Natureza, assim como no mundo natural, na natureza pessoal dos espíritos e dos deuses e também dos seres humanos. Espíritos destrutivos e danosos são fatos da vida, tanto nos tempos antigos quanto agora, e o fato de que a "deusa" está tão propensa a devorar os seus filhos quanto a gerá-los, é também óbvio.
A Wicca tende a ignorar estas trevas, preferindo a visão de "a bondade e a luz." Isto faz sentido, psicologicamente, para cidadãos modernos dos centros urbanos que nunca vivenciaram as dificuldades de se viver realmente próximos à Natureza. 
"INSTRUMENTOS" DE TRABALHO
É absolutamente adequado para um sistema mágico baseado na Golden Dawn como o que a Wicca Garderiana sustenta, que os "instrumentos" usados pelos wiccanos sejam a Taça, o Pentáculo, a Faca e o Bastão, representando os quatro elementos herméticos. O "círculo mágico" traçado é baseado nos círculos mágicos de conhecidos grimórios de Alta Magia, tais como As Clavículas de Salomão, também extensivamente usado pela Golden Dawn. As "invocações dos quadrantes" são baseadas na magia enochiana de John Dee, também ressuscitadas e usadas pela Golden Dawn. 
Bruxas tradicionais tendem a não usar conjuntos formais de instrumentos, apesar de terem certos implementos, dependendo da tradição. O sistema de quatro elementos NÃO é comum, apesar de poder haver traços disso em alguns tradicionalistas influenciados pelo pensamento oriental ou hermético. 
Geralmente, os instrumentos usados pelas bruxas tradicionais não lembram os "intrumentos de trabalho" da Wicca. Eles tendem a ser coisas como vassouras, caldeirões, cordas, crânios (humanos ou de animais), martelos, espelhos, pedras, chifres, conchas... algumas tradições também usam facas, mas sem nenhum simbolismo new-age. Algumas tradições também não usam qualquer tipo de instrumentos! 
Os círculos não são traçados e usados largamente, pelo menos, não tão largamente quanto na Wicca... O termo tradicional para traçar o círculo é "girar o compasso" e freqüentemente há certos lugares da natureza que são suficientes para o trabalho mágico, sem a necessidade de traçar um "círculo". Quando círculos precisam ser traçados, eles são feitos através de cerimônias tradicionais, que não guardam quase nenhuma semelhança com os métodos da Wicca. 
Os espíritos da Terra são invocados para sustentar o círculo e o fogo ritual é aceso... estes são os "elementos" necessários nos trabalhos mais tradicionais. Algumas vezes os espíritos dos quatro reinos ou "direções" são chamados, mas isso varia de lugar para lugar. 
A idéia é a de que a Terra já é sagrada... você não precisa "consagrá-la." Você apenas a habita. 

O TERMO "BRUXA" 
Alguns wiccanos sensacionalistas nunca se cansam de chamar a si mesmo de "bruxos(as)", para o horror do público e o deleite da imprensa. Outros wiccanos acham que "bruxo(a)" é uma palavra pesada e dizem apenas "wiccano." 
Não importa da onde você acredita que a raiz da palavra "bruxa" vem ou o que ela um dia significou, a igreja cristã, entre outras, manchou a palavra e a corrompeu para um termo de perversidade satânica. Muitas bruxas tradicionais não usam a palavra "bruxa", preferindo chamar a si mesmas como "O Povo" ou então não tem nenhum nome especial com o qual se auto-denominar. Elas às vezes se dizem "da arte", "Pellars" ou usam algum outro termo, mas "bruxa" era e é uma palavra muito feita, destinada a ser um insulto e em tempos passados uma acusação criminal séria. 
Nos dias modernos, alguns tradicionalistas começaram a usar a palavra "bruxa" para auxiliar a comunicação entre eles e o mundo new-age, para "falar a língua dos dias modernos." Mas se a palavra "bruxa" for usada é por uma escolha pessoal ou de um grupo. 

O ALÉM-VIDA 
A Wicca acredita firmemente no modelo oriental Hindu/Buddhita de "reencarnação" e de evolução espiritual. Obviamente, este é mais empréstimo teosófico trazido por Gardner ou outros escritores wiccans. 
Na Bruxaria Tradicional, há alguma noção de que a alma ou espírito possa entrar em outra fase de existência após a morte e isto geralmente anuncia um retorno ao poder da terra, para viver com os ancestrais e tornar-se um espírito guardião ou talvez anuncie um retorno de fazer parte da dimensão espiritual da Natureza. Deste estado, um renascimento na sua família ou clã pode ser possível, mas é misterioso. Há uma noção bem definida, apesar de naturalista, de uma existência espiritual de todas as coisas, incluindo os seres humanos. O tempo se move em círculos e da mesma forma obviamente faz o poder da natureza e assim a vida e a morte são mistérios confundidos com este fluxo. 
Como a natureza é viva, assim como nós, existe a imortalidade. Os espíritos da terra são também os espíritos dos mortos e então a Natureza é venerada em muitos níveis. 
Através da aplicação de alguns ritos da Antiga Arte, uma alma pode atingir um nível mais elevado de existência e viver entre a "Companhia Oculta" após a sua morte, mas isto é também um mistério melhor conhecido pelas tradições que ensinam isso.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O Festival de Lugunasada (Lughnasadh)


O Lugunasada (Lughnasadh irl.) significa literalmente montagem de Lugo. O festival acontece no início da colheita de grãos e é tradicionalmente realizado na véspera de agosto no hemisfério norte, e em fevereiro no sul. De todos os festivais antigos - e modernos -, Lugunasada é provavelmente o mais complexo em termos de significado e celebração. 

Este artigo se concentrará nas origens e no significado mítico do Lugunusada e examinará brevemente seu significado religioso e secular nos tempos antigos e modernos. Também veremos como os pagãos modernos, que frequentemente experimentam a colheita de uma maneira mais abstrata, podem se relacionar e celebrar Lugunasada.

A mais famosa das celebrações do Lugunasada é a de Telltown, em Co. Meath. Foi celebrado lá desde tempos de antiguidade desconhecida até 1168, sob os auspícios do rei supremo. Os festivais informais continuaram lá no século 18 e depois fracassaram, apenas para desfrutar de um breve renascimento na década de 1920 como os 'Jogos Tailtiu'. Tailtiu era uma rainha de Fir Bolg que era mãe adotiva de Lugo. Dizia-se que os jogos foram inaugurados pelo próprio Lugo em sua homenagem.

Dado que o Lugunasada é um momento de comemoração alegre, é surpreendente saber que originalmente foram jogos funerários para Tailtiu, que morreu limpando terras florestais para cultivo. Esta informação é dada nas Dindshenchas métricas: 
"Long foi a tristeza, muito o cansaço de Tailtiu, na doença após trabalho pesado; os homens da ilha de Erin, a quem ela estava em cativeiro, vieram receber seu último pedido. Ela contou a eles em sua doença (debilitada, mas não estava). sem palavras) que eles deveriam realizar jogos fúnebres para lamentá-la - zelosamente a ação " 
A história também é contada em uma das outras fontes mais importantes da tradição irlandesa, a Lebor Gabala Erren
"Então Tailltiu morreu em Tailltiu [moderna Telltown], e seu nome clave e seu túmulo é da sede de Tailltiu, nordeste do nordeste. Seus jogos eram realizados todos os anos e sua canção de lamentação, por Lug [Lugh]."
Para entendermos o significado disso, precisamos voltar e examinar as histórias contadas pelo próprio Lugo. Primeiro, devemos percorrer os equívocos de rotularem Lugo como um deus do sol. O fato de esse erro ainda ser perpetuado entre os escritores pagãos modernos nos diz algo sobre como os paganismos modernos se desenvolveram a partir de obras como The Golden Bough e The White Goddess. No entanto, nada disso nos diz algo útil sobre Lugo, então devemos seguir em frente.

Um epíteto comum para Lugo é 'Samildánach', que se traduz em 'De Muitas Habilidades' ou 'Muitos Superdotados'. É por sua inteligência, truques bem elaborados, que Lugh é admirado e honrado. Ele gosta de jogos de habilidade, como xadrez, e desafios físicos, como as corridas de cavalos, uma característica tradicional das celebrações de Lugunasada. Por causa do episódio relatado abaixo, entre outros, ele é homenageado por sua habilidade em cruzar fronteiras e portões e por seus dons comunicativos. Não é difícil ver por que os romanos o associaram ao seu deus Mercúrio.

O caráter e as habilidades de Lugo são esclarecidos no conto em que ele tenta entrar na corte do rei Nuada. Ninguém pode entrar na quadra sem ter alguma habilidade útil. Diante de um porteiro impassível, Lugh recorre a uma longa e longa lista de seus talentos: "Me pergunte: eu sou um construtor. Me pergunte: eu sou um ferreiro. Me pergunte: eu sou um campeão. Me pergunte: eu sou um harpista" etc. A cada jactância, o porteiro simplesmente responde que o rei Nuada já tem um homem assim e não precisa de outro. Lugh então diz: "Pergunte ao rei se ele tem um homem que possui todas essas artes". Isso finalmente surpreende o porteiro, que após consulta com Nuada, admite Lugh no tribunal, onde ele vence os desafios que os outros deuses o colocam e, eventualmente, aceita a liderança dos Tuatha de Danaan.

Voltando mais cedo às histórias da paternidade e nascimento de Lugo, vemos que Lugo não é inteiramente dos Tuatha de Danaan por sangue. Esse fato fornece outra pista essencial para sua natureza e para o festival de Lugunasada.

No início de Cath Magh Tuiredh, descobrimos que o pai de Lugo era Cian, filho de Dian Cecht. No entanto, sua mãe era fomoriana. O nome dela era Eithne, filha de Balor, rei dos Fomoire. E para entender por que isso é importante, precisamos saber um pouco sobre a relação entre os Tuatha de Danaan e os fomorianos.

Quem são os fomorianos e de onde vieram nunca fica claro. Às vezes, são retratados como monstruosos, tipicamente com um olho, uma perna e assim por diante. Em outros momentos, eles são indistinguíveis dos Tuatha de Danaan, tanto em beleza quanto em cultura. A teoria mais provável é que eles são deuses da terra, ou possivelmente do submundo. Qualquer que seja sua verdadeira natureza, seu relacionamento com os Tuatha De Danaan nem sempre é bom. Inicialmente, os Tuatha De Danaan fazem uma aliança com os fomorianos. Eles chegam à Irlanda de dentro de uma névoa mágica e procedem à guerra contra os Fir Bolg, os habitantes da Irlanda na época.

Eithne, filha de Balor e Cian, filho de Dian Cecht, é casada para selar a aliança entre os Fomoire e os Tuatha de Danaan. Lugh é o produto dessa união. Portanto, para entender completamente Lugh, precisamos ver que, em sua natureza essencial, ele está atravessando fronteiras, unindo duas coisas muitas vezes irreconciliáveis ​​dentro de sua pessoa. Ele pode ser visto como o florescimento mais perfeito desses dois povos da Irlanda.

Agora, há outro filho nascido dessa união, Bres Mac Elatha. Seu pai é fomoriano, Elatha, outro rei fomoriano. Sua mãe é de Tuatha de Danaan, Ériu, filha de Delbaeth. Assim, sua ascendência é oposta à de Lugh. Como Lugh, ele é bonito aos olhos (seu nome, Bres, significa literalmente "bonito"). Como Lugh, sua lealdade reside no povo de seu pai, e de muitas maneiras ele é igual e oposto a Lugh.

Depois que Nuada perde a mão enquanto luta contra o Fir Bolg, Bres é escolhido pelos Tuatha de Danaan para sucedê-lo como rei. Os Tuatha de Danaan esperam que sua sucessão encoraje a continuação da aliança entre os fomorianos e eles mesmos. Infelizmente, o governo de Bres é caracterizado por mau governo e tratamento severo para os Tuatha de Danaan. É um tempo de peste e fome. Os fomorianos exigem tributos exorbitantes e reduzem os poderosos Deuses Ogma e Dagda ao nível de servos. Os Tuatha de Danaan acabam se rebelando, e Bres começa a esmagá-los com força militar.

É nesse momento que Lugh se apresenta na corte de Nuada e é escolhido pelos Tuatha de Danaan para levá-los à batalha. A batalha culmina no encontro de Lugh e Balor no campo. Balor tenta derrubar Lugh, olhando para ele com seu único olho mortal. Mas Lugh, ágil e inteligente, lança uma pedra nos olhos, de modo que o veneno dela caia sobre os combatentes fomorianos.

Após a batalha, os Tuatha de Danaan pretendem matar Bres. Mas ele implora por sua vida, oferecendo grandes presentes em troca. Em primeiro lugar, ele oferece que o gado dos Tuatha de Danaan esteja sempre no leite. Mas a advogada Maeltne Morbrethach responde que Bres não tem poder para fazer isso. Bres então promete que, se ele for poupado, os Tuatha de Danaan colherão uma colheita a cada trimestre. Maeltne Morbrethach responde que é preferível uma colheita anual. Neste ponto, Lugh sugere uma solução para Bres:

"Isso não te resgata", disse Lugh a Bres; "mas menos do que isso te resgata."
"O que?" disse Bres.
"Como lavrarão os homens da Irlanda? Como semearão? Como colherão? Depois de tornar conhecidas essas três coisas, serão poupadas."
"Diga a eles, disse Bres, que a lavoura será na terça-feira, a semente lançada no campo na terça-feira e a colheita na terça-feira".
Assim, através desse estratagema, Bres foi libertado. "
Enquanto Lughnasadh foi inaugurado em homenagem à mãe adotiva de Lugh, a verdadeira razão por trás da celebração é a vitória de Lugh e a liberação da colheita para uso do povo. No conto acima, vemos o contraste entre os reinados de Lugh e Bres. Enquanto Bres traz dificuldades e fome ao povo, a vitória de Lugh traz um tempo de boas colheitas e abundância.

Vamos voltar para onde começamos, com o conto de Tailtiu. Nos últimos anos, escritores como Ronald Hutton sugeriram que Tailtiu é uma invenção medieval e questionaram a idéia proposta por Máire McNéill, ou seja, que existem evidências de uma ampla celebração de Lughnasadh nas Ilhas Britânicas. Hutton argumentou que Lughnasadh era puramente um evento local relacionado com Telltown. Isso é verdade e não é verdade. Pois Tailtiu é apenas um dos vários deuses associados a Lughnasadh em vários lugares. Portanto, é verdade que a inauguração de Lughnasadh como os jogos funerários de Tailtiu é de fato local em Telltown (que recebeu o nome dela). Mas temos os mitos de outros deuses associados ao mesmo festival em outros lugares. É improvável que a própria Tailtiu seja uma invenção medieval, embora possa ter sido uma adição posterior às celebrações localizadas de Lughnasadh. O nome dela é conhecido pelo da deusa romana Tellus, que é ela mesma a terra, e sugere-se que o nome 'Tailtiu' se origine da palavra 'Talantiu', que significa 'O Grande da Terra'. Embora isso não prove uma conexão com a Irlanda antiga, sugere que ela era conhecida como uma deusa, mesmo que sua conexão com Lughnasadh só remonta à Idade Média.

Já vimos que Tailtiu está associada ao festival Telltown, e ela é de longe o mais conhecido desses 'deuses de Lughnasadh'. No entanto, também existem duas outras deusas com histórias que as vinculam a Telltown. Estes são Búi e Nás, que são nomeadas como duas das quatro esposas de Lugh nas Dindshenchas Métricas. Aqui, a tradição se confunde, como os Dindshenchas nos dizem que a assembléia de Telltown foi inaugurada para homenagear as mortes de Búi e Nás. Curiosamente, Nás é a deusa homônima de Co. Nass, onde está associada a outro local de montagem. 

As Dindshenchas Métricas nos dizem que Carmun está conectado ao local de montagem no Condado de Wexford. Sua história é um pouco mais sombria que a de Tailtiu. Ela invade a Irlanda com seus três filhos, Dian (Fierce), Dubh (Dark) e Dochar (Harm), epítetos que lembram o pior dos atributos dos fomorianos. Lugh vê seus filhos e mantém Carmun como refém até sua morte. Lugh está assumindo o controle da Deusa da terra local e, com efeito, a colheita. Após a morte de Carmun, Lugh inaugura o festival Co. Wexford em sua homenagem. Talvez este festival reforce seu domínio sobre ela e aplacar o espírito de Carmun, garantindo que as boas colheitas continuem.

Outro elo interessante, embora especulativo, é com a Deusa Macha. Ela é famosa por ser forçada pelo marido a correr contra cavalos enquanto estava grávida. Ela venceu a corrida, mas morreu como resultado, amaldiçoando os homens de Ulster ao fazê-lo. Corridas de cavalos são uma característica enfática dos jogos de Lughnasadh. No entanto, a história de Macha (contada como uma das histórias precursoras do Tain Bo Cualigne) simplesmente afirma que a corrida ocorreu em uma "feira", sem especificar datas. Dizem que Emain Macha recebeu o nome dos gêmeos que ela tinha antes de sua morte. No mínimo, temos outra deusa local associada à morte, feiras e nomeação de lugares.

Parece que as várias deusas mencionadas em associação com Lughnasadh estão conectadas com os locais das assembléias, e não com as próprias celebrações e assembléias. Assim como as concessões feitas por Bres, a morte das deusas serve para garantir uma colheita abundante para o povo. Abundância e abundância. Isso de certa forma vira a cabeça as idéias neopagãs populares sobre Lughnasadh, nas quais o próprio Lugh é frequentemente confundido com John Barleycorn.

No entanto, a idéia de um Deus sacrificial em Lughnasadh não é muito ampla. Pois nos vários trechos da tradição local, tanto as entidades masculinas quanto as femininas são subjugadas ou mortas por Lugh para garantir a colheita. Já tivemos um exemplo, na pessoa de Bres. Em outras partes da Irlanda, vemos que esse papel é assumido de várias formas por Crom Dubh e Donn. Dos deuses associados a Lughnasadh, Crom Dubh é o mais conhecido, na medida em que o último domingo anterior a Lughnasadh é conhecido como Domhnach Croim Dhuibh - 'Domingo de Crom Dubh'. Alguns sugerem que Lugh e Crom batalham a cada ano, com Crom se retirando para o submundo após sua derrota. Outra história conta sobre um touro solto por Crom que deve ser superado. No entanto, eu me pergunto se Crom e Lugh não são deuses opostos, mas talvez deuses que fazem uma tarefa semelhante em nome da humanidade na época da colheita. Sabemos que Crom é conhecido como Cromm Cruiach, Crom of the Hill (ou Mound). Lugh também está associado aos morros, assim como o festival de Lughnasadh. Por mais tentadora que seja, uma discussão sobre o relacionamento entre esses dois deuses terá que esperar por mais um tempo.

O importante em todas essas histórias é o triunfo de Lugo sobre o espírito terrestre ou Deus que preside em qualquer lugar, seja homem ou mulher. De fato, esses vários seres poderiam ser descritos como vestindo o manto da 'soberania'. A intervenção de Lugo libera a colheita dos espíritos da terra e a disponibiliza para o uso de seres humanos.

Este sacrifício não é sem dor. Sem conhecer o significado mítico deste período de colheita, pareceria estranho que a tradição irlandesa (por exemplo, "A cortejar de Emer") se refira ao mês de agosto como Bron Trogain - o mês da tristeza. Podemos associar essa tristeza à morte ou subjugação dos espíritos da terra,  como a derrota dos fomorianos ou a morte de Carmun. Também podemos entender essa tristeza como sendo dos próprios espíritos da terra, sua tristeza pelo fato de que as plantas que eles nasceram e nutriram devem ser cortadas. A colheita de grãos não deve ser entendida como parte desses espíritos da terra em si. No entanto, tanto os espíritos da terra quanto os caules de grãos devem morrer para que a colheita seja ganha para a humanidade.

No caso de Tailtiu, este é um presente dado livremente. Ela limpa a terra para as colheitas e as oferece ao seu filho adotivo. Em outros lugares, o sacrifício não está disposto, como no caso de Carmun. Em vários lugares, vemos a relação entre Lugh, a terra e seus deuses como sutilmente diferente, à medida que as diferentes personalidades dos deuses locais são expressas.

Lugo tem uma afinidade com tempestades e com raios em particular. A tempestade em Lugunasada é considerada um bom presságio, o que parece um pouco contra-intuitivo na época da colheita. No entanto, pode-se ver que é Lugh quem rompe o domínio do verão sobre a terra, terminando o período de amadurecimento e inaugurando o tempo da colheita. O sol pode ser comparado ao olho único de Balor, e Lugh deve demonstrar seu poder nesta estação em que o sol está mais quente. Em Co. Mayo, que essas tempestades são a luta entre Lugh e Balor é explicitado: "O vento de Lúgh Long está voando no ar hoje à noite. Sim, e as faíscas de seu pai. Balor Béimeann é o pai". 

Locais tradicionalmente associados ao Lugunasada e ao próprio Lugo costumam ser em montes altos. Nos tempos antigos, esse era o momento da resolução de disputas legais, da organização de casamentos e da contratação de mãos para a próxima colheita. Foi também uma época em que músicos e artesãos exibiam suas últimas criações, talvez esperando ganhar patrocínio em uma casa rica durante o inverno. As corridas de cavalos aparecem na maioria das descrições das celebrações de Lugunasada. Parece ter tido vários propósitos. Em primeiro lugar e provavelmente acima de tudo, era uma boa maneira de mostrar a coragem do cavalo que você tinha para vender ou oferecer para reprodução. Em segundo lugar, era uma maneira dos pilotos ganharem prestígio. Nas histórias de Fianna, ouvimos dizer que no Lugunasada, os guerreiros procuravam um lugar para passar o inverno, oferecendo proteção em troca de hospitalidade. Ganhar uma corrida de cavalos ou se destacar em um dos outros jogos de coragem física seria uma boa maneira de demonstrar o seu valor.

Então, como comemorar Lugunasada nos tempos modernos? Realizar o festival em uma colina seria muito apropriado. A maioria dos locais associados a Lugh são colinas, geralmente com uma fonte de água natural. O ritual deve incluir uma oferenda a Lugh e aos deuses e espíritos locais da sua localidade, talvez de frutas de verão, o primeiro maço da colheita, ou de comida ou bebida feita com essas coisas.

Acima de tudo, deve-se divertir bastante. Os jogos são fáceis de organizar; esses podem ser desafios físicos ou mentais. O xadrez é apropriado, ou você pode tentar seus jogos de tabuleiro antigos como o fidchell. Um concurso de bardo seria uma boa maneira de apreciar as habilidades de cantores, poetas e contadores de histórias. As corridas de cavalos são impraticáveis ​​para a maioria das pessoas, mas as corridas de cavalos são uma alternativa maravilhosa. Você também pode organizar outras corridas divertidas, como corrida de três pernas, ovo e colher ou saco. E como convém a um festival da colheita, inclua um banquete de produtos sazonais. Pão assado desde a primeira colheita de trigo, frutas de verão, sucos de frutas, vinhos e hidromel. 

domingo, 26 de janeiro de 2020

Oque é a Wicca Keltaica?

A Wicca se insere no bojo do movimento romântico na Europa, de cunho nacionalista, com o revivalismo das religiões de cunho neo-pagãs de forte esteio popular, que visava resgatar as manifestações religiosas populares, taxadas como bruxarias. 

Mais propriamente, oque se conhece na atualidade como wicca, surge em 1950, na Inglaterra, com Gerald Gardner, quando funda um coven chamado Bricked Wood. ("coven" é como se designa um grupo de praticantes de bruxaria). Gardner não usou, a denominação "wicca", mas bruxaria. O termo wicca, só passaria a ser usado anos mais tarde, após sua morte, quando de sua difusão na América do Norte.

Essa "tradição" na Wicca, provinda de Gardner, é conhecida como Wicca Gardneriana, dela se derivou várias outras: Alexandrina, Diânica, Seax-Wicca, Wicca Nórdica, etc... 

Essas "tradições" oriundas de Gerald Gardner, concebem a Wicca como uma religião neopagã, em que afirmava a existência da magia e os princípios espirituais femininos e masculinos que interagiriam com a natureza, celebrando os ciclos da vida mediante festividades sazonais, oito vezes por ano. Possuindo assim, um culto basicamente dualista, em que haveria uma Deusa Tríplice (Deusa Mãe) e o Deus cornífero. Estas duas deidades são vistas como faces de uma divindade panteísta maior, ou que se manifestam como várias divindades politeístas. A Wicca também envolve a prática ritual da magia, em grande parte influenciada pela magia cerimonial do passado, em conjunto com um código de moralidade liberal conhecida como "rede wiccana".

A influência de Gardner, e no qual estruturou seu coven, e que veio a ser a base, das outras "tradições" que dele derivaram, é claramente baseada no ocultismo Thelemico, do qual Gardner era membro de 7º grau da Ordo Templi Orientis, instituto maçônico liderado por Aleister Crowley. De modo que, a escola de Gardner e suas derivações, são sabidamente, desconexas com a antiga religião celta ou de qualquer outra vertente. Reproduzindo, flagrantemente, ritos ocultistas orientais, que nada nos diz respeito. 

A Wicca Keltaika (Wikkā Kāltaikā) visa assim, retomar as origens pagãs da nossa espiritualidade popular, completamente deturpadas por Gerald Gardner e as escolas que lhe seguiram. A Wicca Keltaika se funda especialmente em nossa matiz Galaica, sob a qual repousa nossa ancestralidade, com íntima relação com outras matizes celtas: gaulesa, irlandesa, galesa, etc... 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

As Diversas Tradições Wiccanas a Luz da Wicca Keltaica

TRADIÇÕES POPULARES WICCAN: DIFERENTES FORMAS DE WICCA

A Wicca Keltaica é uma confissão religiosa tradicional, oque significa dizer que em sendo uma religião importa numa crença e ortopraxe comum praticada por um agrupamento humano. Sem isso, não há que se falar ou se auto-denominar como uma "confissão religiosa", como vários grupos de wicca na atualidade, que se auto-designam como tal, fazem. Ao cairem em um ecletismo, adotando divervos panteões, e em que cada indivíduo, mais das vezes, do mesmo coven, tem compreensões e interpretações diferentes, inexiste o pré-requisito de crença comum para se designar como uma confissão religiosa. Por ser Tradicional, remete a uma transmissão de uma crença de sua ancestralidade. Sendo essa matiz ancestral: céltica/kéltica, que é a linhagem da qual provemos e somos herdeiras.

À medida que a Wicca cresce em popularidade, muitas inovações surgiram da tradição original, desenvolvida após o renascimento oculto britânico no final do século XIX. Abaixo estão algumas das tradições wiccanianas mais praticadas, incluindo a wicca gardneriana, alexandrina e diânica, além de outras formas recém-emergentes e caminhos solitários e ecléticos .


AS TRADIÇÕES WICCANIANAS MAIS POPULARES

WICCA GARDNERIANA
O que agora é conhecido como "Wicca" foi desenvolvido inicialmente no Reino Unido em meados do século XX. Gerald Gardner, muitas vezes chamado de "pai da Wicca", fundou um coven chamado Bricket Wood e baseou suas práticas religiosas em muitas fontes, incluindo experiências que ele teve anos antes com um grupo de bruxas auto-descritas, conhecido como New Forest Coven.

Gardner na verdade não chamou as práticas de seu clã de "Wicca", mas de "Bruxaria", embora às vezes se referisse aos membros do clã como "o Wica". O uso de "Wicca" em vez de "Bruxaria" surgiu anos depois, uma vez essas práticas religiosas se espalharam pela América do Norte.

A Wicca Gardneriana é uma tradição iniciática, o que significa que só se pode iniciar através de outra bruxa Gardneriana, para que todo Gardneriano "verdadeiro" possa traçar sua linhagem de volta ao coven original da Bricket Wood. Os wiccanos Gardnerianos tradicionalmente trabalham em grupos de 13 membros, embora esse número possa variar dependendo das circunstâncias do grupo.

O clã é liderado por uma Alta Sacerdotisa, com um Sumo Sacerdote como "o segundo em comando". Essa dinâmica reflete a história mítica dos Sabás , onde o Deus morre e renasce ano após ano, enquanto a Deusa está eternamente viva.

As divindades Gardnerianas são o Deus dos Chifres e a Deusa Mãe, e eles têm nomes específicos que devem ser mantidos em segredo dos não iniciados. Há muita ênfase no uso do Livro das Sombras original que Gardner criou para rituais e magia , que também deve ser mantido em segredo, embora tenha sido publicado de várias formas diferentes ao longo das décadas.

Os rituais Gardnerianos tradicionalmente envolvem sexo ritual, embora isso possa ou não acontecer nos covens atuais. Gardner era um praticante entusiasta do nudismo, de onde veio esse elemento da tradição, e os covens Gardnerianos mais ortodoxos hoje em dia ainda praticam a nudez ritual.

A Wicca Gardneriana contém três graus separados de iniciação , e espera-se que aqueles que desejam iniciar seus próprios clãs dentro da tradição tenham concluído o terceiro grau antes de fazê-lo. Esse aspecto da prática provavelmente é emprestado das tradições de sociedades secretas mais antigas, como os maçons e a ordem hermética da aurora dourada. Os clãs gardnerianos estão entre os mais secretos, tornando essa tradição, pelo menos na forma de clã, um pouco difícil de navegar para os recém-chegados e estranhos.

Wicca Alexandrina
A Tradição Alexandrina foi criada por Alex Sanders e sua esposa Maxine, que eram membros da Tradição Gardneriana e iniciados em um de seus covens no início dos anos 1960. A tradição foi nomeada "Alexandrina" por um amigo e companheiro de bruxa, Stewart Farrar, em parte por causa do primeiro nome de Sanders, mas também em veneração à antiga Biblioteca de Alexandria, que possuía uma riqueza lendária de conhecimento oculto.

A Wicca Alexandrina é semelhante à Wicca Gardneriana em vários aspecto. Existem três graus de iniciação do coven, o coven é liderado por uma Alta Sacerdotisa e há uma crença em uma Deusa suprema, assim como em um Deus. No entanto, a tradição alexandrina traz uma faceta adicional ao culto às divindades: os antigos arquétipos do Rei Carvalho e do Rei Holly , aspectos do Deus que se revezam em derrotar um ao outro à medida que as estações passam de quente e claro a frio e escuro e de volta novamente.

Outras diferenças entre a wicca gardneriana e a alexandrina incluem a escolha de praticar em roupas ou rituais , e uma ênfase adicional na magia cerimonial e no hermetismo. A tradição alexandrina não é necessariamente tão secreta ou dogmática. Embora exista alguma ênfase em respeitar a tradição e seguir o protocolo, há uma ênfase maior no crescimento e em seguir seu próprio caminho, permitindo muitas mudanças e ajustes conforme os profissionais entenderem.

A Tradição Alexandrina é amplamente abordada em livros de Stewart e Janet Farrar, autores e praticantes da Wicca que foram iniciados no coven principal da tradição pela própria Maxine Sanders nos anos 1970.

Wicca Diânica
A Wicca Diânica difere significativamente das tradições mais antigas em que cresceu. Originária dos Estados Unidos, em oposição ao Reino Unido, essa é uma tradição feminista, com uma cosmologia que se concentra apenas na supremacia da Deusa, em vez de enfatizar a polaridade de gênero do conceito de deidade Gardneriano.

Nos covens diânicos, há uma ênfase em estar política e socialmente atrelados a pautas do feminismo. Essa tradição normalmente não possui uma estrutura hierárquica e é muito mais livre em termos de crescimento e movimento espiritual dentro do coven. Como em outras tradições, os Dianic Wiccans se encontrarão em Esbats , Sabbats e em outros momentos significativos, como quando um membro ou alguém da comunidade está em necessidade, mas o trabalho dentro desses círculos é muito fluido e segue uma abordagem centrada na mulher em todos os aspectos. 

A forma original e mais conhecida da tradição diânica foi fundada na década de 1970 por uma mulher chamada Zsuzsanna Budapest. Outra forma de Wicca que compartilha o nome "Dianic" foi iniciada mais tarde por Morgan McFarland e seu marido, Mark Roberts. Esta última tradição admite homens em clãs, assim como outras tradições inspiradas na Wicca Diânica original. No entanto, aqueles iniciados através da linhagem de Budapeste permanecem apenas para mulheres.

Seax-Wicca
A Seax-Wica também foi fundada nos EUA na década de 1970, por uma bruxa britânica chamada Raymond Buckland. Buckland tinha sido um Sumo Sacerdote na Tradição Gardneriana e iniciou o primeiro coven Gardneriano depois de se mudar para Nova York no início dos anos 1960. No entanto, ele descobriu que a estrutura hierárquica do Gardnerianismo resultou em batalhas de ego entre os iniciados americanos, então ele fundou a Seax-Wica como uma maneira de continuar o que era útil sobre o Gardnerianismo, mas de uma maneira mais adequada à cultura americana.

Seax-Wica é inspirada na bruxaria anglo-saxônica, como era praticada na Inglaterra anglo-saxônica entre os séculos 5 e 11. Suas principais divindades são Woden e Freya, que representam o Deus e a Deusa como encontrados na Tradição Gardneriana original. Há uma ênfase no estudo de ervas e várias formas de adivinhação, incluindo Tarô e runas.

Existem muitas diferenças entre Seax-Wica e as formas mais ortodoxas da Wicca. O maior pode ser a falta de sigilo. Não há juramento de sigilo para os membros do coven, portanto não é um desafio descobrir o que acontece nos covens, como eles abordam seus rituais, etc. De fato, rituais e celebrações do Sabá podem ser abertos, se o coven assim o desejar. Também não há Livro das Sombras nesta tradição, e a adição de novo material a rituais, magia etc. é bem-vinda se os praticantes entenderem.

Não há graus de avanço dentro dos covens como em outras tradições, e os líderes do coven são eleitos democraticamente, cumprindo um mandato de um ano lunar (13 luas cheias). Também não há ênfase na linhagem - em outras palavras, não é necessário ser iniciado por outra bruxa da Seax-Wica. A dedicação própria é reconhecida como um ponto de entrada perfeitamente aceitável para essa forma de Ofício.

O Livro da Feitiçaria Saxônica de Raymond Buckland (originalmente chamado The Tree) foi escrito para servir como um guia da tradição Seax-Wica para quem gostaria de explorá-la. Se você ainda não está familiarizado com a Wicca, no entanto, pode lê-lo em conjunto com O livro completo de bruxaria de Buckland para obter uma imagem mais abrangente de sua forma de Wicca.

Wicca nórdica
Um caminho relativamente novo dentro da comunidade Wicca, a Norse Wicca está repleta de crenças, práticas e divindades das antigas tradições nórdicas da Escandinávia.

Ao contrário de outras formas, não é uma tradição “oficial” com um único fundador, mas uma tendência emergente entre os wiccanos que desejam trabalhar com um panteão específico de divindades e podem se inspirar nas sagas nórdicas antigas, como os Eddas e os Grimnismal. . Também é comum adotar versões germânicas e nórdicas do Sabbats, como comemorar o Horse Fest no Autumn Equinox (geralmente conhecido como " Mabon " na Wicca tradicional).

Como a cultura anglo-saxônica pré-cristã compartilha as raízes germânicas com a cultura nórdica da Escandinávia, e muitas semelhanças existem entre as religiões das duas áreas, há potencial de sobreposição entre a Wicca Nórdica e a Seax-Wica. Por exemplo, o uso de runas para adivinhação é encontrado nas duas tradições.

Uma diferença principal entre o que poderíamos chamar de Wicca “padrão” ou tradicional e a forma influenciada pelos nórdicos é o potencial para um sentido mais rico e matizado da vida após a morte. De fato, o sistema de crenças religiosas nórdicas tem uma densa complexidade que pode fazer a cosmologia da Wicca parecer quase bidimensional em comparação. No entanto, muitos seguidores da Wicca Nórdica adotam uma abordagem sincrética, tecendo os elementos do sistema nórdico que ressoam com eles em sua prática pessoal. Os wiccanos nórdicos tendem a ser praticantes solitários, com covens conhecidos sendo bastante poucos e distantes entre si.

Wicca Celta e Wicca Druídica
Também incorporando um sistema de crenças do mundo antigo, a Wicca Celta e a Wicca Druídica são tecnicamente duas tradições diferentes, mas muitos Wiccanos incorporam elementos de ambos em suas práticas. Os druidas eram a classe sacerdotal da sociedade celta, servindo como curandeiros, poetas e filósofos, que praticavam adivinhação e magia como parte de seu papel. Portanto, eles faziam parte do tecido da vida celta e teriam influenciado quaisquer práticas que sobreviveram ao longo dos séculos para se tornar parte da Wicca celta.

Certamente, quase nada se sabe sobre as atividades mágicas e / ou religiosas específicas dos druidas, uma vez que eles deliberadamente mantiveram seu conhecimento em uma tradição oral, muito do que é praticado hoje é inspirado na mitologia celta e nos papéis que os druidas desempenham nesses histórias.

Wicca para Iniciantes

Como está implícito no nome, os wiccanos celtas trabalham com divindades do panteão celta - sejam irlandeses, galeses, córnicos ou até gauleses - e usam nomes celtas para sabás, como Lughnasa em vez de Lammas. A maior parte do que sabemos sobre os antigos celtas vem de uma lente cristianizada, através de monges que registram a tradição na Irlanda medieval, e uma quantidade sólida de Gales celta também sobreviveu. Portanto, a Wicca Celta e a Druídica tendem a ter influências irlandesas e galesas distintas.

O Ogham - um sistema de escrita gaélico com uma função semelhante às runas - pode ser usado no simbolismo e adivinhação mágicos, e alguns praticantes adotam a classificação celta dos elementos (Terra, Céu e Água), em vez do sistema wiccan padrão. Os covens celtas podem ou não envolver uma hierarquia ou graus de avanço - depende de quanto das tradições gardnerianas ou alexandrinas eles desejam incorporar à sua forma sincrética da Arte .

A Wicca Druídica enfatiza a crença de que toda a natureza é inerentemente divina e todas as coisas estão conectadas. Existe uma tendência metafísica e xamanística mais do que a encontrada na Wicca mais tradicional. Os animais são importantes para esse sistema de crenças, em particular o veado, o salmão, o corvo, o javali e vários outros animais nativos da Irlanda antiga. Uma ênfase na magia herbal e nas pedras sagradas também costuma fazer parte dessa tradição. Novamente, a hierarquia pode ou não estar presente nos clãs druídicos, mas há uma maior probabilidade de uma estrutura mais igualitária do que a encontrada na Wicca tradicional.

Wicca solitário
A Wicca solitária simplesmente se refere à prática da Wicca pelos indivíduos por conta própria, e não como parte de um coven. Os solitários podem seguir uma única tradição, aprendendo através de livros e / ou participando de círculos informais da Wicca, ou podem criar suas próprias práticas únicas a partir de uma espécie de "colcha de retalhos" de muitas tradições, além de adicionar elementos de sua própria invenção. Essa segunda abordagem é conhecida como Wicca Eclética (veja abaixo) e é provavelmente a forma mais comum de Wicca praticada atualmente.

Muitos recém-chegados à religião podem começar como solitários, aprendendo e explorando até que se sintam atraídos a explorar a prática com os outros. Da mesma forma, alguns membros do coven podem finalmente decidir mudar para uma prática solitária, seja devido à dissolução do coven ao qual pertencem ou a outras circunstâncias. De qualquer maneira, um tipo de prática não é superior ao outro - embora existam diferenças significativas entre os membros do coven e a prática solitária, a essência das crenças e rituais centrais realiza ambas as formas de Wicca.

Wicca Eclética
Há um pouco de ironia em chamar a Wicca Eclética de “tradição”, já que a única coisa que as práticas ecléticas realmente têm em comum uma com a outra é que elas são diferentes de qualquer outra prática. Em outras palavras, a única tradição do ecletismo é o desejo de forjar o próprio caminho para uma prática wiccaniana única.

O grau em que os wiccanos ecléticos “inventam” sua forma de religião (e nem todos os wiccanos nessa categoria concordariam necessariamente com o termo “religião”) depende do indivíduo. Alguns podem criar estruturas rituais altamente únicas completamente a partir de sua própria inspiração e imaginação, enquanto outros podem simplesmente misturar duas ou mais tradições com pouco ou nenhum material original adicionado.

As razões para criar uma prática eclética são muitas, mas muitas vezes tem a ver com ser um wiccano solitário e sem comunidade imediata para buscar e aprender. De fato, a maioria dos ecléticos são praticantes solitários, embora certamente haja covens e muitos círculos wiccanianos que se encaixam nessa categoria.

A Bruxaria Tradicional e a Wicca Moderna, por Robin Artisson.

Reproduzimos o artigo de Robin Artisson, que explica as diferenças básicas entre a Bruxaria Tradicional e a Wicca moderna, por considerarmo...